O persistente padrão de chuvas acima do normal nas principais regiões produtoras de soja do Brasil começa a trazer preocupações sobre o real impacto na produtividade final da atual temporada 20/21 de soja. Além disso, há receio sobre como esse padrão pode influenciar os preços do grão diante um programa de escoamento recorde para o período.
Após um início de temporada com atraso no plantio de mais de 30 dias e posterior necessidade de replantio em muitas regiões produtoras do Centro-Oeste e Sul do Brasil, as recentes chuvas anunciavam uma eminente recuperação em muitas lavouras que foram submetidas a um padrão quente e extremamente seco durante todo o ciclo da semeadura, onde a soja precoce foi submetida a um grande estresse hídrico.
Porém, após a segunda quinzena de dezembro, esse padrão mudou substancialmente, trazendo chuvas abrangentes e com bons acumulados para importantes regiões produtoras do norte, oeste e centro-oeste do Paraná, por exemplo.
Apesar de bem-vindas, esse padrão começou a impactar negativamente, sobretudo para um híbrido com maturidade de ciclo longo, aumentando a incidência de ferrugem asiática, mofo branco e, em algumas regiões, o abortamento de vagens, consequência do excesso de umidade no solo assim como dias nublados e com baixa luminosidade solar.
Ainda é cedo para afirmarmos qual será o real impacto na produtividade final visto que a soja está em fase de formação de vagens e enchimento de grãos em muitas regiões. Mas, certamente podemos já inferir qual o impacto desse padrão climático no mercado dos grãos.
Colheita da soja no menor nível em 10 anos
A combinação dos fatores acima mencionados reflete consideravelmente no ritmo de colheita no Brasil, trazendo problemas de atraso de embarques e suprimento do grão para o mercado externo.
A colheita da soja no Brasil se aproxima do menor nível dos últimos 10 anos. Somente em Mato Grosso, responsável por mais de 1/3 da produção nacional da oleaginosa, o atraso é superior a 21,97%, atingindo atualmente apenas em 4,71%, contra 27% no mesmo período do ano passado.
Lineup de exportação da soja atinge volume recorde
O atual lineup de exportação da soja, contendo o volume de cargos já nomeados e atracados para embarques, soma aproximadamente 9,55 milhões de toneladas para este mês, de um total projetado de exportação de 85 milhões de toneladas pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Segundo o órgão norte-americano, o crescimento é de 4% na comparação com a temporada 19/20.
Esse volume é não apenas um novo recorde para o período, mas também representa um crescimento de 41% frente ao mesmo período do ano passado.
O volume já nomeado e comprometido representa mais de 11% do total da temporada projetada pelo USDA, sendo um início de temporada um tanto quanto antecipada, visto que oficialmente a temporada 20/21 tem início em fevereiro.
O grande ponto de preocupação é o quanto desse volume comprometido realmente será escoado de acordo com o prazo estabelecido na originação e o quanto eventuais atrasos acarretaram em taxas diárias de demurrage (valor extra que é pago para o navio que permanece no porto após exceder o tempo de atracagem).
Impacto nos prêmios
Os atrasos nos embarques certamente acarretarão em prêmios mais firmes nos portos, encarecendo o Brasil como origem competitiva para embarques em fevereiro e março, trazendo continuidade de demanda de originação da China para a soja dos Estados Unidos. Isso poderia dar sustentação aos futuros da soja na Bolsa de Chicago, que se encontram em clara tendência altista.
Atualmente a soja brasileira possui um desconto superior a US$ $25 por tonelada frente a soja norte-americana (FOB Golfo). Essa diferença, pelo que tudo indica, está prestes a diminuir.
Prêmios da soja – Paper Paranaguá
2021
- Março: +40 // +30
- Abril: +40 // +28
- Maio: +47 // +33
- Junho: +74 // +60
- Julho: +88 // +72
- Agosto: +145 // +120
2022
- Fevereiro: +70 // +55
- Março: +42 // +35
- Abril/ Maio: +42 // +30
- Junho/ Julho: ns // +42